segunda-feira, 21 de dezembro de 2009 Y 08:22
Eu conto. Sempre contei. Conto as torres da minha cidade velha, conto os navios atracados no meu porto, conto as pedras cartesianamente dispostas no meu jardim. Não uso manga três quartos nem acredito em caras metades. Devoro, sozinha, três oitavos de uma pizza. Disco de olhos fechados os dez dígitos mágicos que me fazem ouvir a sua voz. Acredito, como toda boa subjetiva, que dois mais dois podem ser vinte e dois. Como toda boa orgulhosa, quero sempre fazer as coisas duas vezes melhor que da ultima vez. Sou egoísta e ciumenta; não sou boa, confesso, em dividir. Ao mesmo tempo, sou generosa e ingênua no sentido de que procuro sempre distribuir, para qualquer um que esteja interessado, o dobro de lágrimas, o triplo de beijos, o quádruplo de abraços e o quíntuplo de sorrisos que os mesmos me dispensam. Acredito piamente que, pior do que ser girondino interesseiro ou jacobino desmedido é ser planície e não ser nada. Meios me causam aversão. Odeio expressões como meio do nada, meio do caminho, meia xícara de café, meio triste. E é isso que eu procuro na vida: ser inteira. Por isso eu faço o que eu sempre fiz. Eu conto. Escrevo contos.