quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009 Y 13:28
abriu a porta devagar,pra que o rangido alto da madeira não acordasse os vizinhos. Já passava das três,afinal.Ele entrou hesitante.Sentia os olhos do outro lado da sala fulminando-o,mas continuou encarando o chão.Escutou a voz dela tremer quando mandou-o sentar no sofá descolorido.Sua cabeça rodava e suas pernas pareceram subitamente sem forças quando tentou obedecer.Ela tossiu baixinho,e ele sabia que ela havia sentido o cheiro do álcool.
"por que não me ligou?" - foi a primeira coisa que um dos dois (não sabia bem quem) dissera.Um silêncio gelado se seguiu depois.E,num rompante,gritos,acusações.Tanta coisa que ficou engatada na garganta.Já fazia mesmo muito tempo.Por fim,quando não havia mais nada a se dizer,foi ela quem falou,como quem contava um segredo."Eu não consigo me lembrar da ultima vez que nós fomos felizes.Antes,você sabe,daquilo."E ele,de olhos fechados,respondeu:"Você usava aquela camiseta velha,furada na manga.Estava de meias e enrolada no edredom.Seu cabelo tinha um cheiro bom.Não sei de que era.Aí você se levantou,me deu um beijo rápido e eu saí.Parecia que iamos fazer aquilo pra sempre.Depois,naquele dia...Bem,você sabe o que aconteceu."
"Lavanda" - ela disse,depois de um tempo - "Era o meu condicionador,que tinha cheiro de lavanda".Silêncio,de novo.Sem proferir uma palavra,ele deitou a cabeça no seu colo.Ficaram lá,no sofá velho do apartamente sem luz,por muito tempo.Choravam os dois,baixinho.E ele,desafinado,cantarolava alto o suficiente pra que ela escutasse: "Quanto tempo tenho,pra matar essa saudade (...) Perdoa meu amor,esse nobre vagabundo"
* escancaradamente inspirado na melhor música e no melhor seriado do mundo!